Procura atividades para crianças no confinamento?

Autora: Maria Assis – Terapeuta Ocupacional

Puzzle: a visão da Terapia Ocupacional

Um puzzle pode apresentar-se de várias formas e feitios, e apresenta-se numa variedade de temas que contribuem para aprender sobre formas, cores, animais, letras, etc. Pode apresenta-se de uma forma simples, como os puzzles de encaixes com pega ou da forma mais complexa possível como um puzzle de 1000 peças.

Como Terapeuta Ocupacional a trabalhar com crianças, a brincadeira é a nossa ferramenta de trabalho e os puzzles para além de uma atividade lúdica, poderão ser um poderoso instrumento para trabalhar competências sensoriomotoras essenciais ao desenvolvimento do brincar adequado à idade, desempenho escolar e participação nas atividades da vida diária satisfatórios.

 
O puzzle na Terapia Ocupacional

 

Quais as competências desenvolvidas ao construir um puzzle?

Os terapeutas ocupacionais têm uma ferramenta de avaliação e intervenção chamada análise de atividades, que pretende compreender todas as componentes de desempenho envolvidas na participação numa atividade.

Desta forma, quando uma criança completa um puzzle, segundo o olhar da terapia ocupacional, esta está a utilizar e a trabalhar competências nas seguintes áreas:

  • Processamento tátil e motricidade fina:

Em primeiro lugar, para o manuseamento e descriminação das peças do puzzle ela precisa de usar o seu sistema sensorial tátil, aquele que permite sentir as formas e texturas das peças, e que servirá de base para que esta consiga participar na tarefa através do recrutamento de competências de motricidade fina. Embora não seja uma tarefa muito exigente do ponto de vista motor, implica uma boa motricidade fina e controlo motor dos membros superiores para a completar. 

Estas competências para além de fundamentais para uma boa participação no brincar e nas atividades escolares, como na preensão do lápis, implicam ainda na autonomia nas atividades da vida diária, como no abotoar botões ou apertar os atacadores.

  • Processamento visual e coordenação oculomotora:

A imagem que se pretende completar num puzzle desafia essencialmente a perceção e processamento visual, que implica a organização cerebral da informação visual dada pela imagem apresentada.

Este tem impacto direto na coordenação oculomotora, pois os olhos veem o puzzle e a peça, enviam um sinal para o cérebro que começa a processar e descobrir onde a peça deve encaixar – depois os olhos, o cérebro e as mãos trabalham juntos para encontrar os locais apropriados e manipular a peça do puzzle para que se encaixe. Estas são competências essências ao bom desempenho escolar, sendo recrutadas por exemplo, quando a criança em aula copia um texto do quadro.

  • Praxis:

Os puzzles são jogos de resolução de problemas. As competências práxicas são aquelas que nos permitem planear e executar determinada ação, estando presentes na execução eficaz de um puzzle. Os puzzles ensinam e fortalecem assim a sua organização, planeamento e sequenciamento de tarefas, essencial em todas as tarefas da vida diária da criança.

  • Regulação e Autoeficácia:

Os puzzles também ajudam a ensinar paciência e autoconfiança, atenção e concentração. Resolver um puzzle leva tempo e esforço, e um puzzle completo oferece uma sensação de autoeficácia, especialmente em crianças. A manutenção da atenção e concentração na tarefa e tolerância à frustração são fulcrais na sua conclusão pois há sempre um posicionamento correto – ou a peça encaixa ou não.

Os puzzles ensinam a criança a usar a mente para ajudar a descobrir onde a peça deve ir. Além disso, ensina-lhes paciência e tolerância à frustração. A maioria das crianças não consegue colocar a peça corretamente na primeira vez. Em vez disso, eles devem manipular a peça para encontrar o ajuste correto. Isso requer paciência e persistência. Aqueles com baixa tolerância à frustração tendem a ficar com raiva e muitas vezes atirar as peças, sendo necessários mecanismos de autorregulação para completar a tarefa.

 

competências desenvolvidas ao contruir um puzzle

Como motivar a criança na participação da realização de um puzzle? 

Nem todas as crianças se interessam à partida pela participação nesta atividade, muitas vezes por dificuldades apresentadas nas componentes sensoriomotoras nela envolvidas. É muito importante salientar que, tanto em sessão terapêutica, como a brincar em casa com os pais, o envolvimento voluntário e motivação intrínseca da criança na tarefa é muito importante para uma aquisição de competências eficaz, podendo adaptar o tipo de puzzle às necessidades e interesses da mesma. Para motivar a criança à participação na realização de um puzzle deixamos algumas dicas:

  • A graduação da tarefa para algo mais simples:
    • Do ponto de vista motor: Quanto maiores as peças menos motricidade fina será requerida, mais fácil a sua conclusão.
    • Do ponto de vista visual, um puzzle com uma imagem mais básica poderá facilitar a adesão à tarefa.
  • Aumentar o interesse associando a algo familiar:
    • A criança poderá ainda contruir o seu próprio puzzle de uma forma simples, podendo a criança fazer um desenho (ou utilizar uma fotografia ou imagem familiar.), recortar e tentar montar de novo.

Tendo em conta os benefícios acima descritos, naturalmente a Terapia Ocupacional integra a utilização do puzzle na sua intervenção, num ambiente motivador e de brincadeira, com o objetivo de trabalhar as bases para uma participação autónoma e satisfatória no brincar, atividades de vida diária e atividades escolares, em especial com crianças com perturbações diversas nomeadamente atraso de desenvolvimento, dificuldades de aprendizagem, disfunções de integração sensorial, em hiperatividade e défice de atenção, perturbação do espetro do autismo. 

Caso identifique alguma dificuldade nas competências para a construção do puzzle faladas anteriormente poderá consultar a Terapia Ocupacional, a qual poderá avaliar e ajudar a sua criança a melhorar as suas competências sensoriomotoras e na sua participação autónoma e satisfatória no brincar, atividades escolares e atividades da vida diária.

Afinal de contas, não há porque não melhorar brincando!

 

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