Embora a ansiedade seja uma resposta comportamental fisiológica potenciada por uma ameaça ao bem-estar, a perturbação de ansiedade social consiste num problema patológico de saúde mental marcado por encontros sociais desafiantes e/ou respostas após a exposição a esses encontros (DSM-5).
Aproximadamente15% a 30% dos jovens são diagnosticados com perturbações de ansiedade, sendo que a perturbação de ansiedade social é responsável por uma prevalência de 9,1% entre os 13 e os 18 anos (Freidl et al., 2017). De acordo com alguns estudos, esta é mais comum em mulheres e tem maior preponderância durante a adolescência (Kendall et al., 2010).
ANSIEDADE SOCIAL VS FOBIA SOCIAL:
A ansiedade social e a fobia social são Perturbações de Ansiedade que compartilham características distintas e comorbilidades. Ambas envolvem ansiedade e medointenso em situações sociais, mas diferem em termos de gravidade, duração e padrões comportamentais relacionados. Elas são comuns e podem afetar significativamente a qualidade de vida e os relacionamentos sociais dos indivíduos afetados.
A Ansiedade Social, também conhecida como Perturbação da Ansiedade Social Generalizada, é caracterizada por:
- Medo persistente e irracional de ser julgado, avaliado negativamente ou humilhado em situações sociais;
- Preocupação excessiva com o que os outros pensam deles e tendência para evitar atividades sociais, como falar em público, participar em reuniões ou iniciar conversas;
- Sintomas físicos: rubor facial, tremores, sudorese excessiva e palpitações cardíacas.
Por outro lado, a Fobia Social é mais especifica e caracteriza-se por:
- Medo acentuado e específico de situações sociais ou de desempenho, em que o indivíduo é exposto a possível escrutínio por outros indivíduos;
- Medo acentuado de situações específicas, como falar em público, comer à frente de outras pessoas, ou interagir com figuras de autoridade;
- O medo nessas situações pode ser paralisante, levando ao isolamento social e ao evitamento de eventos que geram ansiedade.
A Perturbação de Ansiedade Social constitui um problema grave de saúde mental e pode potenciar outros diagnósticos psiquiátricos, como a depressão, adição a substâncias e tentativas de suicídio, pelo que é extremamente importante mantermo-nos atentos aos sintomas e estarmos em alerta.
IMPACTO DO COVID-19 E DAS REDES SOCIAIS NO DESENVOLVIMENTO E/OU AGRAVAMENTO DESTA PERTURBAÇÃO:
“Quanto mais o indivíduo é isolado, mais ele perde a sua confiança e as suas aptidões sociais. Ou seja, terá mais dificuldade de conviver em sociedade quando inserido nela novamente” (Silvio José Lemos Vasconcellos).
Neste sentido, percebesse que os efeitos do confinamento devido à COVID-19 afetaram gravemente os adolescentes, uma vez que foram impostas alterações significativas à sua rotina diária normal, inibindo as suas interações e comunicações nos diversos contextos sociais a que pertencem. Estes efeitos ainda foram mais amplificados em adolescentes que já estavam em risco de desenvolver psicopatologia, uma vez que se tornaram particularmente vulneráveis aos efeitos negativos do stress e com um acesso limitado a tratamentos (Bouter D. C., Zarchev M., 2023).Assim pode dizer-se que o isolamento social forçado contribuiu para o aumento da ansiedade social em alguns adolescentes. Uma vez que, ao reforçar o evitamento de situações sociais e privar as pessoas socialmente ansiosas de uma importante fonte de bem-estar, agravou a sua sintomatologia após o regresso à normalidade (Eres et al., 2021), ou seja, a pandemia Covid-19 potenciou os fatores de risco nas populações com diagnósticos de perturbação de ansiedade social, especialmente porque tiveram pouco suporte social nesta fase e evitaram forçosamente as várias situações sociais, não praticando as suas competências sociais (Vriendset al., 2014).
Em relação às Redes Sociais (RS), múltiplos estudos associam o uso destas à Ansiedade, sugerindo que o maior uso quotidiano de RS esta relacionado com mais sintomas de Ansiedade (Vannucciet al., 2017; Weinsteinet al., 2015). Isto pode ser explicado porque as RS alimentam uma expectativa de receber feedbacks negativos, levam a maior consciência dos eventos stressantes que ocorrem na vida dos outros e induzem muita pressão para se verificar as atualizações das redes sociais, logo estas facetas podem gerar e potenciar respostas desencadeadoras de Ansiedade.Por outro lado, adolescentes ansiosos podem ter uma maior utilização de RS, uma vez que estas lhes permitem regular o humor através de recursos de distração online, refugiando-se nos conteúdos digitais, não existindo a necessidade de procurarem a interação real com o outro (Vannucci, Flannery e Ohannessian, 2017).
Na Ansiedade Social por norma existe uma preferência pela interação social online e, com isso, maior utilização das RS, sobretudo porque providencia aos utilizadoresalgum anonimato. Assim, os indivíduos encontram nas RS um meio para conseguir ligar-se aos outros e comunicar, sem ter medo da avaliação social e da rejeição antecipada (Couto, 2015). Mas ao longo do tempo, esta procura pela interação online pode tornar-se excessiva e problemática, uma vez que leva o adolescente a isolar-se cada vez mais do mundo real (Lira, 2016), ou seja, apesar de os adolescentes procurarem nas RS um meio de compensar as dificuldades sentidas na interação social, paradoxalmente, a própria rede social pode funcionar como um factor de manutenção ou reforço dessas mesmas dificuldades (Jiang&Ngien, 2020).
SINAIS DE ALERTA E FATORES DESENCADEADORES:
Evitamento de Situações Sociais;
Desempenho prejudicado em Contextos Sociais;
Sofrimento e Impacto no Funcionamento Global;
Traumas e eventos stressantes na infância – Bullying;
Personalidade e Temperamento Introvertido e tímido;
Coexistência de Outras Perturbações Mentais – Depressão, outras perturbações de ansiedade;
Experiências de Vergonha ou Humilhação Anteriores;
Dificuldades nas Interações Sociais;
Diminuição do rendimento Académico e/ou Profissional;
Baixa Autoestima e Autoconfiança;
Stress e Sobrecarga Emocional;
Preocupação excessiva com os outros e o que eles pensam;
Constrangimento em consequência da exposição social;
Autocriticar-se de forma excessiva;
Comparação excessiva em relação aos outros;
Problemas gastrointestinais ou desconforto abdominal;
Sensação de opressão torácica (aperto no peito);
Alterações no sono (insónias) e no apetite;
Sensações como o medo excessivo e inquietação;
ESTRATÉGIAS DE PROMOÇÃO DO BEM-ESTAR:
Se identificou em si ou nos seus filhos alguns destes sinais de alerta, pode estar a passar por uma situação vulnerável de ansiedade social. Neste sentido, apresentamos algumas estratégias que podem ajudar a lidar com estas dificuldades acrescidas:
Despenda alguns minutos do seu dia para pensar sobre as coisas boas que lhe aconteceram, sentiu ou experienciou;
Expresse os seus sentimentos e preocupações a pessoas próximas ou através de um diário;
Acredite na sua capacidade para lidar com situações difíceis;
Não permita que os outros a pressionem;
Seja tolerante consigo próprio, valorize as suas competências e conquistas e encare os obstáculos como uma oportunidade;
Viva um dia de cada vez, concentrando-se nas coisas que pode controlar;
Use o humor que contribui para diversificar as emoções e controlar melhor os pensamentos;
Estabeleça uma rede de apoio e seja também a rede de apoio de alguém;
Reforce as suas relações de proximidade emocional e mantenha o contato social com elas;
Procure sentir-se útil através de estratégias que promovam a gratificação pessoal (e.g. voluntariado);
Defina períodos em que fique offline (sem aparelhos electrónicos);
Procure manter uma rotina, mas diversificando as suas atividades;
Respeite o seu ritmo: dedique algum tempo para fazer algo que goste e que lhe dê prazer;
Mantenha-se ativo pratique exercício físico;
Pratique atividades de relaxamento: ioga, meditação, massagem, passear, cozinhar, ler, ver filmes, ouvir música, jardinagem ou trabalhos manuais;
Realize exercícios respiratórios: uma respiração lenta e profunda permite a redução do batimento cardíaco, diminuindo a ansiedade;
Evite comportamentos nocivos (ex: ingestão excessiva de cafeína) e faça uma alimentação saudável;
Tenha uma visão crítica em relação à informação disponível nas redes sociais e internet.
É importante referir que não existe uma forma única de lidar com a ansiedade. Cada pessoa deve utilizar e adaptar diferentes estratégias, de acordo com a sua condição e necessidade, procurando descobrir o que melhor resulta para si.
“NO SOFRIMENTO DO OLHAR A FOBIA SOCIAL FALA POR SI”
Sente-se perdido ou conhece alguém que encaixe nestes pontos? Do que está à espera? É o momento certo para procurar ajuda especializada. Procure um profissional dotado de conhecimentos e ferramentas para o ajudar a desbloquear todo o processo! Não deixe para amanhã o que pode fazer hoje! O silêncio e o deixar passar, é apenas uma forma de evitar resolver a situação que pode amanhã fazer parte de um quadro clínico mais grave.
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TESTEMUNHOS
“Eventos sociais são aqueles Freak Shows que se vêem nos filmes, toda a gente está a olhar para mim, a rirem-se e a julgarem-me.”
16 A
“Não consigo falar nem pensar normalmente, só consigo gaguejar e pensar em como todos me estão a julgar, só consigo ouvir as risadas, susurros e o meu próprio coração a bater”.
16 A
“Ansiedade social é ficar desconfortável quando estás no redor de pessoas e isso é muito mau pois mal podes sair de casa que já ficas desconfortável.”
13 A
“Fobia social é uma espécie de monstro que nos ataca quando metemos um pé fora da nossa zona de conforto. Quando esta zona é abandonada ele agarra-nos e consome-nos. Todos os pensamentos negativos que o constituem começam a aparecer na nossa mente quase instantaneamente, e apenas nos conseguimos libertar quando voltamos para a nossa bolha. Ser “escolhido” por este ser não é um motivo para celebrar, pois ele nunca vem sozinho, ao seu lado está sempre a sua companheira, a ansiedade. Apesar de ser invisível à mior parte dos olhos humanos, não é inofensivo, aliás consegue impedir-nos de viver, tapando-nos a boca quando tentamos falar em público, fazendo-nos “cócegas” na barriga em lugares movimentados e sussurrando-nos ao ouvido o quanto não prestamos. O monstro não é fácil de derrotar, mas também não é invencível se o enfrentarmos com ajuda.”
16 A