COMO CUIDAR DOS NOSSOS – O papel enquanto profissional / cuidador da Doença de Alzheimer

A relação do envelhecimento populacional e o aumento da esperança média de vida tem sido uma das reais preocupações, em Portugal. Uma vez que as projeções apresentadas pelo Instituto Nacional de Estatística perspetivam a tendência de envelhecimento demográfico.

O envelhecimento é um processo que biologicamente não ocorre simultaneamente com o avanço da idade cronológica, tendo grande variação individual. A idade cronológica por si só não permite determinar o envelhecimento porque existem diferenças funcionais entre indivíduos da faixa etária. Nesse sentido, é importante refletirmos sobre dois conceitos: senescência e senilidade, embora não sejam sinónimos ambos se encontram relacionados com a velhice.

A Senescência é a velhice propriamente dita, em que há um processo lento e gradual de declínio físico e mental, bastante moderado de início.

A Senilidade é o declínio físico mais acelerado e acompanhado de desorganização mental com alteração no funcionamento cognitivo e perda de memória.

Fala-se em velhice patológica quando ocorrem estas alterações que impedem a funcionalidade do indivíduo, aumentando a sua vulnerabilidade e comprometendo a possibilidade de adaptação. Dessa forma, a velhice patológica provoca fragilidade, decorre da interação entre causas genéticas e ambientais, e pode ser indicada pelo início e curso de doenças irreversíveis como é o caso da Demência.

Na demência as dificuldades acontecem mais rapidamente e interferem com o normal funcionamento do individuo (é importante ter presente que são mais preocupantes as pessoas que têm problemas de memória e não se queixam, pois significa que não se apercebem da existência de disfunção), já no envelhecimento normal podem surgir pequenas dificuldades. É igualmente essencial ter presente que existem eventos que são mais significativos, do que outros, como passamos a elucidar na seguinte tabela:

 

Problemas importantes Problemas pouco importantes

Repetir a mesma pergunta várias vezes no mesmo dia;

Esquecer determinadas conversas mesmo quando recordado;

Perder-se num local bem conhecido;

Não recordar informações recentes.

Subir as escadas e esquecer o que ia fazer;

Ir às compras e esquecer alguma coisa;

Esquecer consultas;

Esquecer alguns recados ao telefone.

 

  1. O que é a Demência

Podemos então definir no geral a demência como um estado de deterioração mental, caracterizado por compromisso da memória, capacidade de discernimento, pensamento abstrato e um conjunto de outras capacidades corticais superiores, com gravidade suficiente para interferir com as funções sociais e profissionais da pessoa (impactantes nas atividades de vida diária). Podem também ocorrer alterações da personalidade e do comportamento.

Segundo a Organização Mundial da Saúde o número de pessoas com demência tem vindo a aumentar drasticamente e que a doença de Alzheimer, é a forma mais comum de demência com uma prevalência de 60% a 70% dos casos.

A demência tem impacto nas pessoas de maneiras diferentes, pois relaciona-se com aspetos de personalidade inerente a cada sujeito, mais ou menos impactantes antes do início do processo de sofrologia. Segundo a OMS estão definidos em três estágios:

 

Estágio Inicial

(Despercebido – início gradual);

Estágio Intermédio

(Mais aparente e limitante)

Estágio Tardio

(Maior dependência)

–        Tendência para esquecer;

–        Perda da noção temporal;

–        Perda de noção de deslocação nos meios.

–        Esquecimento de memória a curto prazo;

–        dificuldades na deslocação em casa;

–        Maiores dificuldades na comunicação;

–        Início da necessidade de ajuda em atividades da vida diária;

–        Alterações comportamentais.

–       Dificuldades de mobilidade;

–        Alterações comportamentais;

–       Dificuldade de memória (reconhecimento de familiares e amigos);

–        Alteração das noções espácio-temporais.

 

  1. O que é a Doença de Alzheimer

A Doença de Alzheimer é um tipo de demência que provoca uma deterioração global, progressiva e irreversível de diversas funções cognitivas (memória, atenção, concentração, linguagem, pensamento, entre outras). Esta deterioração tem como consequências alterações no comportamento, na personalidade e na capacidade funcional da pessoa, dificultando a realização das suas atividades de vida diária.

A causa exata é ainda desconhecida, mas as características chaves incluem a acumulação de duas proteínas –amiloide beta e tau- no cérebro, estas formam “placas” ou “emaranhados” que gradualmente matam células cerebrais, geralmente causadas por fatores genéticos ou idade avançada.

 

  1. Principais alterações

São diversas as áreas que ficam alteradas devido à Doença de Alzheimer e passamos a explicitar as principais alterações cognitivas:

Desorientação: a pessoa sente-se frequentemente desorientado no tempo e no espaço;

Comunicação: crescente dificuldade da pessoa em comunicar com os que o rodeiam e em entender o que lhe é dito. A pessoa perde a capacidade de compreender a linguagem falada ou escrita, e as palavras perdem o seu valor enquanto meio de comunicação. De acordo com as competências linguísticas que ficarem comprometidas, pode observar-se: parafasias (substituição de uma palavra /som por outro); disartria (dificuldade em articular algumas palavras); dificuldades de evocação e nomeação; circunlóquio (não consegue chegar à palavra pretendida); agramatismo (omissão de palavras importantes para decodificar a mensagem numa frase); dificuldades semânticas; dificuldades na manutenção de um tópico conversacional; início de um novo tópico conversacional antes do término do outro; dificuldades de compreensão;

Memória: a perda de memória é gradual e mais visível ao nível da memória para factos recentes. A memória “das coisas antigas” tende a perder-se mais tardiamente.

Com o avançar da doença a pessoa pode sentir dificuldades na realização de tarefas simples do dia-a-dia, sendo que as principais alterações nas atividades básicas do dia-a-dia (atividades de vida diária) são: no vestir/despir, cuidados pessoais, banho, alimentação, mobilidade na comunidade e recreação e lazer.

A adoção de comportamentos estranhos ou pouco habituais pode ser um dos sinais iniciais da doença de Alzheimer. Estes comportamentos devem-se à confusão e desorientação da pessoa e podem agravar-se com a evolução da doença, dificultando o seu relacionamento com os outros. As principais alterações do comportamento são:

Agressividade: as pessoas com doença de Alzheimer têm muitas vezes comportamentos agressivos, quer físico quer verbais em relação ao cuidador sem razões aparentes. A agressividade é causada mais pela doença do que pela própria pessoa, e mesmo pessoas dóceis podem tornar-se agressivas com a evolução da doença;

Reações exaltadas e cólera: uma pessoa com Alzheimer pode gritar, chorar, desesperar, recusar mexer-se e proferir coisas desagradáveis. Pode também encolerizar-se, reagindo exageradamente a incidentes sem importância;

Agitação e nervosismo: este tipo de comportamentos pode dever-se somente a alterações no cérebro decorrentes da doença, e não depender de acontecimentos específicos;

Ansiedade e medo: a ansiedade pode ter origens diversas, desde um estado confusional, delírios ou alucinações, o ambiente que se vive em casa, sensação de viver num mundo que parece estar em constante mudança, medo do futuro, entre outras;

Perseguição: a pessoa pode ter tendência a andar sempre atrás de do cuidador, este comportamento é explicado pelo facto de a pessoa se sentir assustada por viver num mundo sem sentido e imprevisível, e de sentir no cuidador a estabilidade de que precisa para se sentir seguro;

Comportamento embaraçoso ou estranho: a doença pode ter afetado a parte do cérebro que controla as inibições, ou a pessoa pode estar somente a tentar dizer-nos algo sem sucesso;

Comportamento sexual inapropriado: este tipo de comportamento pode ser o resultado de perda de inibição, falta de oportunidade de se expressar sexualmente, necessidade de se sentir seguro, entre outras;

Alucinações e delírios: o doente de Alzheimer pode ver, ouvir ou cheirar algo que não existe ou pode acreditar em algo de natureza persecutória e que não é real, pois os danos cerebrais fazem com que confunda e interprete incorretamente o que vê, ouve ou cheira;

Deambulação: as pessoas com Alzheimer raramente deambulam sem destino, mas geralmente esquecem-se do que iam fazer e são incapazes de explicar;

Mudanças bruscas de humor: sinais de extrema tristeza ou felicidade em relação a coisas que normalmente não levariam a uma reação desse género são muitas vezes comuns nas pessoas com demência.

Devem sempre ser consideradas estratégias terapêuticas comportamentais que englobem modificações em casa e nos locais onde a pessoa com Alzheimer fique durante o dia. Fique atento às nossas publicações no  e  onde falaremos mais sobre estas estratégias!

 

  1. Que profissionais deve procurar

Até à presente data não existe cura para a Doença de Alzheimer. No entanto, existem algumas medicações que parecem permitir alguma estabilização do funcionamento cognitivo nas pessoas com Doença de Alzheimer, nas fases ligeira e moderada.

É igualmente importante a intervenção não-farmacológica, esta diz respeito a um conjunto de intervenções que visam maximizar o funcionamento cognitivo e o bem-estar da pessoa, bem como ajudá-la no processo de adaptação à doença.

Nesse sentido é crucial que haja um trabalho cuidadoso e multidisciplinar quando estamos perante um caso de Doença de Alzheimer, envolvendo o Neuropsicólogo/Psicólogo, o Terapeuta da Fala, o Neurologista, os cuidadores, bem como outras especialidades que forem sentidas como necessárias para o caso em questão, como o Terapeuta Ocupacional. Este trabalho em equipa tem como principal objetivo a estimulação das capacidades da pessoa, preservando, pelo maior período de tempo possível, a sua autonomia, conforto e dignidade.

Autoras:

Dra. Inês Viegas –Terapeuta da Fala

Dra. Mara Candeias – Psicóloga Clínica

 

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