Dia Europeu da Psicomotricidade

Olá! Eu sou o B. e tenho 9 anos. Gostava de vos contar a minha (ainda) curta história!

Os meus pais sempre me disseram que era “desajeitado”, até mesmo para começar a andar. Diziam-lhes que era por “preguiça”.

Quando entrei para a escola, vinha muitas vezes com feridas para casa porque caía bastante. Diziam que tinha “dois pés esquerdos”, comentário que também ouvi em atividades físicas, como o futebol. Experimentei então a dança: disseram que “não tinha ritmo”.

Comecei a ser dos últimos a ser escolhido para pertencer a uma equipa nas aulas de Educação Física. Mas o pior foi no recreio… Ninguém queria brincar comigo porque era muito “trapalhão”. Riam-se de mim…

Dediquei-me ao desenho, porque era uma atividade que gostava muito mas a minha Educadora dizia que não se percebia nada, que era para pintar dentro das linhas, e que fazia “tanta força” que rasgava o papel. Eu bem tentava mas não conseguia, e por isso já não queria desenhar.

Quando fui para o 1º ano, adorei a ideia de aprender a ler e a escrever. Seria fantástico encontrar algo em que fosse bom… Consegui ler tão bem! Mas ninguém percebia a minha letra. Diziam para seguir as linhas mas parece que o meu corpo não fazia o que queria! Comecei a ficar muito triste e sem interesse…

Até que comecei a fazer jogos com uma amiga muito diferente! No início achei muito estranho porque parecia uma constante brincadeira. Mas agora tudo faz sentido!

Jogar com bolas com diferentes características (como o tamanho, o peso, a textura) permite-me pensar na força e velocidade do movimento. Fazer uma música a bater palmas dá-me o ritmo que o meu corpo pode fazer! Com jogos de saltos e movimentos com mãos ao mesmo tempo, posso melhorar a minha coordenação, tão essencial em tarefas de todos os dias! Posso perceber a força que faço pelo tom do lápis de carvão ou de cor e consigo controlá-la, o que me dá maior autonomia nas aulas! Até a brincar com molas fico com mais força no meu dedo indicador e consigo segurar melhor no lápis. Já toda a gente percebe a minha letra!

“Que esforçado!” dizem, mas eu digo que já me percebo, que já conheço o meu corpo. E afinal, tenho um pé direito e um pé esquerdo!

 

Este é apenas um exemplo fictício, baseado em 9 anos de experiência profissional da Psicomotricista Ana Catarina Calado. No entanto, as dificuldades psicomotoras das crianças são cada vez mais evidentes na nossa sociedade, com menor capacidade de coordenação, dificuldades na organização espacial global e em tarefas de mesa, sem perceber o seu corpo, o que gera dificuldades em jogos de grupo.

Segundo o Instituto de Avaliação Educativa (IAVE), na análise dos resultados das provas de aferição de 2º ano em Expressões Físico-Motoras em 2017, 46% dos alunos não conseguiram dar seis saltos consecutivos no salto à corda; 40% não foram capazes de dar uma cambalhota para a frente, mantendo a direção e levantando-se com os pés juntos; e, 31% revelaram dificuldades em participar num jogo infantil de grupo. Tudo isto afeta a auto-estima da criança e, por conseguinte, a sua disponibilidade para a aprendizagem, gerando também uma resistência à frustração e o seu isolamento social.

Existem também crianças que manifestam questões emocionais através do seu Corpo, verificando-se assim agitação motora, sintomas psicossomáticos, dificuldades na expressão de emoções e na sua perceção em relação aos pares, entre outras.

A Psicomotricidade pode ajudar a prevenir e/ou contornar este tipo de situações, aliando a Cognição, a Motricidade, e a Emoção em Intervenção, permitindo uma visão holística do ser humano, através do Corpo e do seu Movimento.

Leia mais sobre este tema aqui.

 
 
Dra. Ana Calado – Psicomotricista