É sabido que o desenvolvimento humano é um processo evolutivo, orgânico, dinâmico, multifactorial, e não linear e que, como tal, dificilmente seria compatível com o encerrar determinada situação clínica em categorias diagnósticas fechadas. Por outro lado, não parece existir, no mundo clínico, um consenso efetivo sobre não só como são realizados os diagnósticos, mas também sobre quem deve realizá-los e em que circunstâncias e momentos. De facto, muitos técnicos relutam em avançar com um diagnóstico, conscientes do seu significado e relevância, das suas consequências e da sua – não raras – vezes permanência. Ainda assim, coloca-se a questão que interroga se a sua não determinação pode ou não ter efeitos na terapêutica e nas intervenções que serão subsequentes – pese embora o facto de o diagnóstico não determinar necessariamente quais são as intervenções mais adequadas para cada caso e sim o perfil clínico e funcional do indivíduo, o qual inclui todas as características da pessoa e da sua rede de suporte, que devem levar ao plano terapêutico.
De todo o modo, este dilema – paradoxalmente ou não – parece verificar-se menos ao nível das alterações ao neurodesenvolvimento (que têm repercussão em diversos diagnósticos de carácter permanente e que obedecem a critérios tão importantes como a idade do indivíduo aquando do aparecimento das alterações ao desenvolvimento normativo) e mais na área da psicopatologia da infância e da adolescência (nos quais parecem colocar-se mais as precauções próprias da maleabilidade do funcionamento psicológico no início da vida).
Outra questão recorrente quando falamos de diagnóstico é a sua importância – e por vezes mesmo necessidade – para que a família ou o indivíduo possa usufruir de determinados apoios que estão previstos, de acordo com cada condição médica. Falamos de medidas escolares, suportes logísticos, adaptações técnicas e apoios financeiros que, na grande maioria dos casos, são absolutamente fundamentais para aumentar o bem-estar, a qualidade de vida e o grau de ajustamento, autonomia e funcionalidade da pessoa.
De relevar que a lógica causal do diagnóstico parece retirar, por vezes, a influência de outros fatores, podendo conduzir a uma demissão dos intervenientes, numa lógica de que a situação clínica, se é permanente e se se trata de uma condição do indivíduo, não depende daquilo que o contexto possa fazer ou interferir – o que sabemos não ser, de todo, verdade.
E poderemos descurar o quanto a recepção de um diagnóstico num parente, particularmente um filho, coloca inúmeros sentimentos e conotações – a culpa ou responsabilidade, a incerteza, a angústia, a função parental e as suas expectativas, os sonhos e o futuro, o “e agora?”. Ver mais…
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DRA. ANA VERÍSSIMO – PSICÓLOGA CLÍNICA
DRA. MÁRCIA CORREIA – TERAPEUTA DA FALA