Nem todas as deficiências são visíveis

Recuemos 30 anos, a 03 de dezembro de 1992, para chegar ao dia em que a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu pela primeira vez o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência. 

Este dia surgiu da necessidade de promover uma maior compreensão sobre aspetos relacionados com a deficiência, tendo em vista a defesa da dignidade, dos direitos e do bem estar das Pessoas com Deficiência. Tem também como objetivo consciencializar a comunidade sobre os benefícios sociais ao incluir Pessoas com Deficiência na vida política, social, económica e cultural.

Anualmente, a ONU define um tema para marcar e comemorar o dia de hoje, sendo que em 2022 o tema escolhido foi “Not all disabilities are visible”, ou seja, “Nem todas as deficiências são visíveis”. Perturbações de saúde mental, dores crónicas, cansaço, são apenas alguns exemplos invisíveis a um primeiro olhar, contudo isso não torna estas condições menos desafiantes e incapacitantes para o dia-a-dia de muitas pessoas.

É fácil darmos passagem a uma pessoa que se desloque em cadeira de rodas, mas será assim tão fácil percebermos de que uma criança com Perturbação da Hiperatividade e défice de Atenção (PHDA) se encontra desregulada e que os comportamentos que apresenta resultam da sua condição e não apenas por falta de regras? Será fácil, aos nossos olhos, entendermos que uma pessoa com um problema motor andará mais devagar, porque reparamos nas muletas que o acompanham, mas será que temos o mesmo entendimento perante uma criança com discalculia ou dislexia, que a seu modo, também apresenta uma condição que a faz “andar” mais devagar?

Perante o referido anteriormente, consideramos importante (re)conhecer o conceito de Neurodiversidade. 

Este termo descreve as variações naturais do cérebro humano relacionando as diferenças no modo de pensar, processar, aprender e comportar. A maioria das pessoas são consideradas neurotípicas, isto é, o seu cérebro funciona e processa de forma esperada para a sociedade. Contudo, 1 em cada 5 pessoas são neurodivergentes. PHDA, Autismo, Dispraxia, Dislexia, Discalculia e Disgrafia são exemplos de condições neurodiversas, invisíveis aos olhos da maioria de nós, mas por vezes incapacitantes e condicionantes para uma vida 100% funcional e adequada à nossa sociedade. 

Na prática clínica da MR Terapias são inúmeros os casos que por aqui já passaram e continuam em acompanhamento com as características referidas. Se para os técnicos que trabalham nesta casa (Terapeutas da Fala, Terapeutas Ocupacionais, Psicomotricistas e Psicólogos) se torna imperativo validar e valorizar a neurodiversidade, nem sempre o mesmo se observa com a sociedade de forma geral, nomeadamente com a comunidade educativa com quem articulamos consistentemente. 

É imperativo e urgente dar voz a estas crianças e futuros adultos, fazê-los ser vistos perante a sociedade (escola, professores, funcionários, colegas) e reconhecer que embora todos nós tenhamos os nossos próprios talentos e desafios, todos nascemos diferentes e desenvolvemo-nos de forma única, sendo necessário adaptarmo-nos às características de cada um. A nossa forma de pensar resulta não só da nossa genética, mas também das nossas experiências. Neste Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, e sob o tema que “Nem todas as deficiências são visíveis”, cabe-nos relembrar que pessoas neurodivergentes frequentemente trazem para o dia-a-dia ideias fora da caixa, soluções criativas, perspetivas únicas. Contudo, necessitam que o ambiente que as rodeia esteja adaptado às suas necessidades, tornando-as desta forma pessoas visíveis e valorizadas pelas suas características.

“A Neurodiversidade refere-se à infinita variedade neurocognitiva presente na população humana. Aponta para o facto de todo o ser humano ter um sistema nervoso único e com uma combinação particular de habilidades e necessidades.”  (Judy Singer, fundadora do conceito de Neurodiversidade) 

O movimento pela neurodiversidade defende que TODOS os indivíduos sejam vistos com o seu devido valore todos os dons que acompanhem as nossas diferenças sejam celebrados.

E então como podemos apoiar crianças neurodivergentes e as suas famílias, dando-lhes a visibilidade que necessitam? 

– As palavras são poderosas, por isso deve haver maior cuidado em não rotular a criança. Por exemplo: em vez de “défice” usar “desafio/ dificuldade”;

– Ser um parceiro dos pais durante conversas difíceis;

– Estabelecer uma conversa num tom positivo e acolhedor;

– Ser honesto e manter-se esperançoso;

– Planear a intervenção mais adequada e promotora de qualidade de vida;

– Apoiar os cuidadores.

(Brown, H. et al., 2021)

 

AUTORAS:

Dra. Cátia Mansilha – Terapeuta da Fala

Dra. Rita Cardoso – Terapeuta Ocupacional

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