PERCEBER A PSICOLOGIA PARA NÃO TER MEDO DO PSICÓLOGO
Sabia que em Portugal registou-se nos últimos 4 anos um elevado número de suicídios, principalmente no sexo masculino?
Sabia que Portugal tem das maiores taxas de consumo de ansiolíticos?
E que aumentou a taxa de consumo de antipsicóticos?
Estas informações são sempre preocupantes, principalmente nesta sociedade em que vivemos. Em que se prefere não falar muito, nem perceber muito desta área, para não se ficar a pensar se tem ou se os outros à volta têm algum problema de saúde mental. Problemas de cabeça na gíria comum.
A verdade é que somos todos diferentes, diríamos mesmo que somos apenas iguais na nossa diferença. Umas pessoas são mais reativas, outras introvertidas, umas divertidas, outras transportam consigo os problemas de uma vida. Somos aquilo que vivemos. A forma de pensar de uma pessoa, de agir e de ver o mundo, está estritamente ligada ao seu passado, às relações que tinha e tem, às oportunidades, às dores e sofrimentos, às ideias e projetos que constrói diariamente para o seu futuro. O que se quer dizer com isto é que é importante aceitar, a nós próprios e aos outros na sua forma de ser. Da mesma maneira como um é mais gordo, outro mais alto, cabelo liso ou encaracolado. É como é. Claro que podem sempre melhorar, mas se chegaram aquele ponto é por alguma razão.
Ir a um psicólogo já não é ser visto como um maluco. Falar com um psicólogo é proporcionar ao próprio um momento de reflexão e introspecção sobre os seus dilemas, as suas dúvidas. É viver em conjunto as angústias e arranjar formas e estratégias de as ultrapassar. Dos mais novos aos mais velhos, ir ao psicólogo é fazer um caminho pessoal, de auto-conhecimento e de procura. De dar um sentido e um fio condutor à sua forma de ser e àquilo que o preocupa. Não é preciso ser maluco, é preciso é ter coragem e ter força para desbravar este caminho sem receios ou preconceitos. É deixar-se ajudar por alguém que o vai ouvir, que vai estar consigo nas suas angústias e nas suas lutas.
O Relatório sobre Saúde Mental em Números (2016) revela-nos um pouco sobre como está Portugal, como estão as nossas pessoas. É interessante, como nas sociedades ocidentais, há menos espaço para lazer (ainda sabe o que significa esta palavra?) e vive-se na constante correria das obrigações e do trabalho. Doenças há muitas, problemas também, dificuldades imensas, mas atrás de tudo isto estão pessoas. Pessoas concretas. Com sentimentos. E falar de sentimentos é sempre mais complicado do que falar de números.
Uma grande dificuldade, que é importante apelar e sensibilizar, no dia de hoje, é a integração de pessoas com doenças mentais graves, e para quem trabalha com estas pessoas, sabe, que não são elas que escolhem estar assim, antes pelo contrário, ter estas doenças como esquizofrenia, bipolaridade, etc., é motivo de muito sofrimento. Sofrimento para o próprio e para a família.
A sensibilização da população para lidar com estas situações e com pessoas com estes problemas deve começar desde muito cedo. Quebrar mitos, preconceitos e obstáculos deve ser uma prioridade nas casas e nas escolas. Ao mesmo tempo deve-se preparar estas pessoas para terem responsabilidades profissionais e para se conseguirem manter ativos, pois é essencial até para se conseguir controlar a doença. Algo que não acontece principalmente a partir dos 18 anos, o que aumenta muito o consumo de estupefacientes e a taxa de suicídio referido no inicio desde artigo.
Deixamos então aqui o apelo para estas duas coisas tão importantes: cada um tomar conta de si e dos que estão à sua volta e sensibilizar mais as pessoas/ instituições/ comunidades para as doenças mentais graves.