TERAPIA DA FALA E ESCRITA – QUAL A RELAÇÃO?

Há cada vez mais encaminhamentos para Terapia da Fala realizado por parte dos professores por erros na escrita, descritos como erros ortográficos.

Mas será que todos os erros são ortográficos? Será que um terapeuta da fala pode ajudar em todos os tipos de erros?

Vamos tentar responder a estas questões.

Tipos de erros e as suas diferenças

Na verdade, nem todos os erros na escrita são ortográficos, existem erros linguísticos. Qual a diferença entre eles? 

          – Os erros ortográficos estão relacionados com as regras ortográficas existentes na nossa língua, verificando-se, principalmente, na substituição de grafemas (p.e. o/u; ss/c/ç/s) e omissão de acentuação gráfica. Estes erros ocorrem com uma percentagem elevada, pelo facto de na língua portuguesa um fonema (som) corresponder a mais do que um grafema (letra) (p.e., o fonema /j/ corresponde aos grafemas <j> e <g>), o que gera dificuldade na seleção do grafema correto “jelado” ou “gelado”. As crianças vão aprender estas regras através da aprendizagem formal e explicitação da regra (p.e. “antes de um p ou de um b, escreve-se <m> e não <n>”), com a exposição frequente à palavra, realizada principalmente pela leitura e com a sua prática na escrita. 

          – Os erros linguísticos ocorrem por dificuldades no processamento linguístico e de reflexão sobre a língua, com especial relevância nas propriedades fonológicas. É comum crianças que têm ou já tiveram dificuldades na produção dos sons da fala (de natureza fonológica), na aprendizagem da leitura e escrita apresentarem erros linguísticos. Os erros podem ser classificados como fonológicos quando as crianças:

  • Substituem grafemas com propriedades semelhantes (p.e., troca de <f> por <v> (vozeamento), <p> por <t> (ponto de articulação), entre outros), i.e. troca letras com sons diferentes;
  • Alteram o formato silábico (p.e., “porta” escreve “pota”), alteram a extensão silábica (p.e., limpar escreve “limpare”) ou invertem a ordem das letras dentro da mesma sílaba (p.e. “secola” para “escola”);
  • Juntam ou separam as palavras (p.e., “amanhã” escrevem “a manhã”);
  • Omitem a nasalidade (p.e., “banco” escreve “baco”);
  • Trocam acentuação fonológica (p.e., jacaré escreve “jacáre”).

Contudo, importa reforçar que existem crianças que falam corretamente e, com a introdução do código escrito, realizam os erros mencionados.  Estes erros são classificados como erros linguísticos fonológicos, mas será que são os únicos? Não, também existem erros linguísticos semânticos (p.e., “usei o garfo para cortar o bolo”), morfológicos (p.e. “A Maria viu dois gato”), sintáticos (p.e. “A Maria o filme comprou”) e pragmáticos (p.e., “Quando vou dormir digo bom dia aos pais”). Estes erros decorrem de uma pobre reflexão linguística e apenas são resolvidos se a sua natureza for resolvida.

A AJUDA DE UM TERAPEUTA DA FALA, SERÁ NECESSÁRIA? 

SIM, caso a criança apresente erros linguísticos. Primeiramente, o terapeuta da fala avalia a produção escrita da criança, de forma a analisar minuciosamente a natureza dos erros, os que ocorrem com maior frequência, pois cada criança apresenta uma tipologia de erro diferente. Esta informação é importante pois permite traçar o perfil linguístico da criança e o que está na base da sua resolução. De seguida, estabelecem-se os objetivos para a intervenção direta, de forma a ajudar a criança a refletir sobre a língua para adequar a correspondência fonema-grafema. Durante a intervenção são dadas várias pistas, de forma a facilitar o processamento da informação e consequente aprendizagem do código escrito, tais como: pistas visuais (cores e gestos) e auditivas (associação a onomatopeias, por exemplo), entre outras. 

Caso uma criança, durante a intervenção, apresente erros de natureza ortográfica, o terapeuta da fala corrige-o e tenta alertar a criança para a regra envolvida no mesmo. No entanto, este não é o foco da intervenção. Para a resolução dos erros ortográficos, os professores são o profissional mais capacitado.   

SERÁ QUE AS CÓPIAS E OS DITADOS AJUDAM O MEU ALUNO/FILHO A SUPERAR OS ERROS LINGUÍSTICOS?

NÃO. A realização de cópias como trabalho de casa ou como forma de superar os erros na produção escrita, está muito enraizada no nosso modelo de aprendizagem , no entanto, trata-se de um mito, principalmente quando se trata de erros linguísticos. Não é pela criança escrever a mesma palavra muitas vezes e com o alvo para copiar que deixará de realizar o erro, a criança precisa de uma intervenção especializada para superar as suas dificuldades – o princípio é o mesmo que para outras disciplinas: não aprenderíamos a resolver contas, com cópias da conta, sem que nos explicassem como se resolve. É importante ter em atenção que as cópias podem ser causadoras de frustração e negação à escrita, e consequentemente a tarefas escolares!

Assim, se verificar erros linguísticos no seu filho ou aluno, ou se quiser ajuda para os distinguir, procure ajuda especializada, na nossa equipa temos terapeutas da fala que o podem ajudar!

AUTORES:

Dra. Joana Lamancha – Terapeuta da Fala

Dra. Márcia Correia Terapeuta da Fala

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