
Dia Mundial do Cérebro – 22 de julho
A Perturbação de Hiperatividade | Défice de Atenção (PHDA) é um tema de debate frequente devido ao aumento significativo de casos diagnosticados ao longo das últimas décadas, levantando a questão “agora é tudo PHDA?”. Conquanto, podemos olhar para o aumento do número de casos identificados com PHDA como um eventual sobrediagnóstico desta perturbação, ou podemos ponderar sobre o facto que a comunidade está mais atenta aos sinais e por isso sinaliza mais, logo há mais diagnósticos.
O que é de facto a PHDA?
A PHDA é uma perturbação do neurodesenvolvimento em que estão envolvidos vários fatores neurológicos que, por sua vez, se manifestam em desatenção, impulsividade e hiperatividade. A sua etiologia exata é desconhecida, complexa e multifatorial, mas vários estudos apontam para uma disfunção de algumas áreas cerebrais, já estudos genéticos sugerem uma componente hereditária de cerca de 60-75%.
É uma perturbação que, muitas vezes, não aparece isolada, pois é frequente existirem comorbilidades, ou seja, coexistir com outras perturbações do neurodesenvolvimento (como por exemplo: as dificuldades de aprendizagem, a perturbação do espectro do autismo, etc.).
O que implica ser uma Perturbação do Neurodesenvolvimento?
Uma perturbação do neurodesenvolvimento é uma perturbação neurobiológica que afeta a função cerebral e o desenvolvimento de uma criança. No caso da PHDA estudos de neuroimagem mostraram diferenças a nível estrutural e funcional em áreas cerebrais ricas em vias noradrenérgicas e dopaminérgicas como o: Cerebelo, Corpo Estriado, Córtex Pré-Frontal e Lobo Parietal.
Por sua vez estas alterações neurológicas têm impacto nas suas respetivas funções neuropsicológicas, passamos a mencionar:
- O Cerebelo desempenha um papel importante a nível da atividade motora;
- O Corpo Estriado executa uma função crucial na inibição comportamental e na manutenção da atenção;
- O Córtex Pré-Frontal e o Lobo Parietal são responsáveis por diversas funções executivas, tais como: capacidade de planeamento, flexibilidade cognitiva, memória de trabalho, controlo e manutenção da atenção, inibição de resposta e velocidade de processamento.
Como diferenciar a PHDA de alterações do comportamento?
Uma das grandes questões é saber se estamos perante um caso de PHDA ou de alterações comportamentais e para isso é necessário estar atento a três grandes critérios:
- Frequência do comportamento: este tem de se manifestar todos os dias em todos os contextos, pode haver uma variação na frequência, mas o comportamento existe sempre;
- Intensidade do comportamento: sempre muito intenso;
- Tipos de comportamento disruptivo: estes podem variar entre dificuldade no controlo inibitório, desatenção e grande agitação psicomotora.
Todas as crianças com PHDA têm os mesmos sintomas?
Nem todas as crianças com PHDA manifestam a mesma sintomatologia, uma vez que existem subtipos da PHDA e estes afetam diferentes funções neuropsicológicas. De acordo com a 5ª edição do Manual Diagnóstico e Estatístico das Perturbações Mentais da Academia Americana de Psiquiatria (DSM-5), existem três subtipos:
- PHDA, apresentação predominantemente de desatenção: neste subtipo as funções que se encontram mais afetadas são a atenção focalizada, a memória de trabalho e a velocidade de processamento da informação;
- PHDA, apresentação predominantemente de hiperatividade-impulsividade: neste subtipo existe mais dificuldade no controlo inibitório, na capacidade de planeamento, na flexibilidade mental e na atenção sustentada;
- PHDA, apresentação combinada: neste subtipo estão presentes tanto as dificuldades mencionadas no subtipo desatento, como no hiperativo-impulsivo.
Eu acho que o meu filho/aluno tem PHDA, o que fazer?
É importante que haja um trabalho cuidadoso e multidisciplinar quando estamos perante uma suspeita de PHDA, envolvendo o Neuropsicólogo/Psicólogo, o Pedopsiquiatra/Pediatra do Neurodesenvolvimento, os pais ou os responsáveis pela criança, o educador ou professor, bem como outras especialidades que forem sentidas como relevantes para a criança, de forma a realizar um diagnóstico diferencial.
No caso específico do Neuropsicólogo, este irá realizar uma Avaliação Neuropsicológica onde serão recolhidos dados da história clínica da criança e serão aplicadas provas que avaliarão a componente comportamental (as manifestações comportamentais da desatenção, da impulsividade e da hiperatividade) e a cognitiva (as funções neuropsicológicas comummente afetadas na PHDA).
Os resultados da Avaliação Neuropsicológica, em conjunto com a avaliação realizada pelo Pedopsiquiatra/Pediatra do Neurodesenvolvimento, permitirá realizar um diagnóstico.
Há cura?
Não existe uma cura para a PHDA e esta pode persistir até a vida adulta, no entanto existem tratamentos que devem ser aplicados precocemente de forma a mitigar a sintomatologia, através do controlo dos sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade.
A intervenção deve ser multidisciplinar e inclui na maioria dos casos o tratamento farmacológico, a terapia comportamental e a estimulação cognitiva das funções em défice, visando sempre a melhoria da funcionalidade da criança nas várias vertentes da sua vida.
Devem sempre ser consideradas estratégias terapêuticas comportamentais que englobem modificações em casa, na escola e nos locais onde a criança fique durante o dia. Fique atento às nossas publicações no Facebook e Instagram onde falaremos mais sobre estas estratégias!
Dra. Mara Candeias – Psicóloga Clínica
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