Dia Mundial da doença de Parkinson

Hoje, dia 11 de abril, comemora-se o Dia Mundial da Doença de Parkinson, a segunda doença neurodegenerativa mais prevalente na população em idade adulta. Esta é caracterizada por ser uma doença motora, crónica e de progressão lenta, com predominância no sexo masculino (1).

O diagnóstico da Doença de Parkinson baseia-se nos sinais e sintomas do doente, bem como nas alterações ao exame neurológico. Esta tem como principal causa a produção reduzida de dopamina (substância responsável pelo bem-estar físico e psíquico), porém os fatores ambientais, genéticos e a idade podem interagir e contribuir para esta doença. Os primeiros sintomas começam a aparecer entre os 50 e os 65 anos (1,2).

No que concerne às manifestações clínicas, estas caracterizam-se por tremor em repouso, rigidez muscular, instabilidade postural (dificuldades no equilíbrio), lentidão de movimentos voluntários e automáticos, alterações na deglutição, alterações na fala e na voz. Devido às alterações de vida dos utentes podem surgir depressões, ansiedade, perturbações do sono e isolamento social (1,2,3,4,5).

A medicina ainda não conseguiu descobrir o tratamento para a Doença de Parkinson e como tal, a intervenção tem como objetivo melhorar os sintomas e desacelerar a sua progressão, pelo que o ideal consiste numa intervenção de caráter multidisciplinar (1).

Parkinson e a Terapia da Fala

O Terapeuta da Fala, intervém junto das pessoas com Doença de Parkinson, principalmente nas alterações vocais, articulação verbal e deglutição, decorrentes das alterações provocadas pela própria doença. Numa fase avançada, a doença pode provocar alterações cognitivas e como tal também a linguagem pode sofrer alterações (1,2,6)

Muitas vezes, a primeira alteração que surge nesta doença é a alteração de voz, sendo caracterizada por uma reduzida intensidade vocal (p.e., falam baixo), e por isso os utentes sentem necessidade de se repetir no momento de conversação (2).  

Posteriormente, começa a existir uma diminuição na mobilidade dos músculos orofaciais e como consequência surgem as alterações na mímica facial, interferindo na comunicação (p.e., na demonstração de emoções faciais) e na articulação verbal (p.e, fala arrastada e lentificada) (2,7).

Numa fase mais avançada da doença, é comum surgirem alterações na deglutição, contudo também pode ser uma das dificuldades iniciais, não sendo tão comum (3,6,8). A deglutição, processo que envolve a alimentação, é uma função complexa que abrange atos motores, neurológicos e sensoriais. Assim, quando existem alterações na deglutição, designamos como Disfagia (9,10). Esta alteração pode ser identificada através de alguns sinais de alerta, como, dificuldade em engolir, engasgos, tosse antes, durante ou após engolir – sinal de penetração laríngea, necessidade de pigarrear para eliminar a sensação de corpo estranho na garganta, voz molhada após engolir, deglutições múltiplas, entre outros. As alterações consequentes da disfagia podem conduzir o utente à desidratação, desnutrição, perda de prazer alimentar, infeções respiratórias (p.e., pneumonia por aspiração – quando um alimento vai para os pulmões) e isolamento social durante a alimentação (p.e., diminuição de refeições com a família/amigos), que influenciam diretamente a qualidade de vida (2,3,9,10,11).

Parkinson e a Terapia Ocupacional

A Doença de Parkinson apresenta manifestações clínicas que se vão agravando ao longo do tempo, que por sua vez irão limitar significativamente a participação e desempenho ocupacional. Poderá ficar comprometido o desempenho em atividades de vida diária, nomeadamente, nos cuidados pessoais/higiene, no vestir/despir e na alimentação. As atividades instrumentais de vida diária (p.e., ir às compras e realizar tarefas domésticas) e as atividades de lazer e produtivas (p.e., caminhar e emprego) também poderão ficar alteradas. Assim sendo, também o acompanhamento em Terapia Ocupacional se torna necessário (12).

O Terapeuta Ocupacional de forma a ajudar a pessoa com Doença de Parkinson, começa por avaliar junto do utente e dos seus familiares/cuidadores, a história ocupacional, interesses, preocupações, ambiente (físico e social) e desempenho ocupacional. Esta avaliação tem como objetivo compreender o impacto da doença na participação e envolvimento nas ocupações valorizadas pelo próprio. 

Após a avaliação, o terapeuta ocupacional intervém com o utente tendo em conta os objetivos terapêuticos definidos em conjunto com o mesmo, de forma a potenciar o desempenho ocupacional. 

A intervenção é individualizada e independente do estádio da doença, através de ações preventivas e de reabilitação. Estas podem centrar-se no treino de atividades básicas e instrumentais de vida diária (p.e., tomar banho; ir às compras), na manutenção e organização das rotinas, hábitos e papéis ocupacionais, de forma a devolver a identidade ocupacional da pessoa (p.e., organizar um horário semanal). 

Para além disso o Terapeuta Ocupacional, pode auxiliar no aconselhamento de produtos de apoio e adaptação do ambiente físico, como facilitador e promotor da autonomia no contexto da pessoa (p.e, talheres adaptados com pesos para diminuir os tremores durante a refeição; colocar objetos em lugares de fácil acesso; diminuir barreiras arquitetónicas) (12).

No que concerne à estimulação de competências motoras e cognitivas, o Terapeuta Ocupacional também pode auxiliar através da realização de atividades terapêuticas significativas. Por fim, também é realizado aconselhamento a familiares/cuidadores e partilha de técnicas de prevenção de quedas (p.e., consciencialização do utente e família/cuidadores) sendo fundamentais para a eficácia da intervenção.

Desta forma, é extremamente importante a abordagem multidisciplinar com o objetivo de assegurar o bem-estar e qualidade de vida à pessoa com doença de Parkinson. Viver com Parkinson é realmente recomeçar uma vida, mas não sozinho. Em conjunto, será possível reajustar hábitos, dar voz e promover a integração na comunidade através do aumento do sentido de competência e eficácia, adaptando os diferentes contextos em prol do bem-estar do doente.

 
Dra. Inês Júlio – Terapeuta da Fala
Dra. Joana Lamancha – Terapeuta da Fala
Dra. Raquel Paulino – Terapeuta da Fala
Dra. Inês Silva – Terapeuta Ocupacional

 

 Referências Bibliográficas

 

(1) Parkinson, A. P. Manual para Pessoas com PARKINSON. Lisboa: MSD; 2014.

(2). Gomes, C. A inteligibilidade da fala de pessoas com Doença de Parkinson: dados preliminares sobre a concordância inter-avaliadores. Lisboa, Portugal; 2015.

(3). Monteiro D, Coriolan M, Belo L, & Lins O. Relação entre disfagia e tipos clínicos na doença de parkinson. CEFAC. 2014 Mar-Abr; 620-627.

(4). Zurita, A. Guia técnica de intervención logopédica en la enfermedad de Parkinson. Madrid: Editorial Síntesis; 2005.

(5). EPDA. Symptoms Overview. European Parkinson’s Disease Association [Internet]. 2020 [Recuperado a 1 de Abril de 2020] Disponível em http://www.epda.eu.com/about-parkinsons/symptoms/symptoms-overview/.

(6). Ayres A, Jacinto-scudeiro L. A, & Olchik M. Instrumentos de avaliação clínica para disfagia orofaríngea na doença de Parkinson: revisão sistemática. Audiology Communication Research [internet]. 2017; 1-6. DOI: 10.1590/2317-6431-2016-1814.

(7). Ayres, A. Efeitos de um programa de intervenção fonoaudiológica na disfagia e na qualidade de vida em Doença de Parkinson. [Tese de Mestrado na internet]. Porto Alegre (Brasil): Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre; 2016. Disponível em https://repositorio.ufcspa.edu.br/jspui/bitstream/123456789/310/1/Ayres%2c%20Annelise_Disserta%c3%a7%c3%a3o.pdf.

(8). Nascimento, D. Alterações de comunicação e de deglutição na doença de Parkinson: a importância da Terapia da Fala. Saúde e Bem-estar. 2020 Jan; 54-55.

 

(9). Logemann, J. Evaluation and Treatment of Swallowing Disorders (2.ª Edição). Austin: Pro-Ed. 1998.

(10). Branco, C., & Portinha, S. Disfagia no Adulto – da teoria à prática (1.ª Edição). Lisboa: Papa-Letras. 2017.

(11). Ferreira, M. Disfagia após Acidente Vascular Cerebral: comparação entre o uso do instrumento de Triagem Volume-Viscosity Swallow Test e a avaliação instrumental por Videoendoscopia. [Tese de Mestrado na internet]. Cascais (Portugal): Escola Superior de Saúde do Alcoitão. 2016. Disponível em https://comum.rcaap.pt/ bitstream/10400.26/16638/1/ Disserta%C3%A7%C3%A3o%20Mariana%20Ferreira%20%20Mestrado%20MOF%20e%20Degluti%C3%A7%C3%A3o.pdf

(12). Monzeli GA, Toniolo AC, Cruz DM. Intervenção em terapia ocupacional com um sujeito com doença de parkinson. Cad Ter Ocup da UFSCar. 2016; 24 (2): 387-95.