Oh não, o Verão…

Para alguns o Verão é motivo de alegria, para mim de terror. Mas terror tenho eu vivido nos últimos tempos. Uso roupas largas para esconder o meu corpo, de cores escuras de preferência, para ninguém olhar para mim. Não vou à praia, nem à piscina porque não consigo suportar o calor e recuso a despir-me… a mostrar aos outros o que não quero que vejam… Que me vejam!

Eu não gosto do que vejo. Porque é que os outros haviam de gostar? 

Às vezes ainda tento. Tento ficar à frente do espelho… olhar para mim, mas não consigo… sinto-me e sou uma coisa feia e gorda. O outro lado do espelho mostra o meu sofrimento, a minha dor, as fotografias dos outros mostram o meu desejo, mostram aquilo que nunca serei.

Deixei de comer, mas depois volto sempre a comer. É um ciclo, uma dependência, um vício que não consigo parar. Na verdade, não sei como parar, ou se quero parar. Algo não está bem em mim… não sei o quê! Mas sinto. Às vezes tenho fome, tenho sede e como tudo o que tiver, tudo o que quiser, para preencher um vazio que sinto. 

Mas, depois, lembro-me do que o meu tio disse: – Se continuas assim, não passas na porta.

Do que a avó disse: – Esta criança não para de crescer.

Do que os meus colegas dizem: – És um gigante. És uma baleia.

Do que os amigos do meu irmão brincam: – Olha o avião! Não espera… são só as rodas dele.

Do que o meu pai pergunta: – Vais comer, outra vez?! 

Depois lembro-me, da minha imagem ao espelho… e vomito todas as memórias que me fizeram lembrar que não gosto de mim, não gosto da imagem que vejo, não gosto da pele que visto, não gosto da casa onde vivo, dentro de mim… não gosto… Mas o que fazer? Sorrir e fingir que tudo está bem, colocar a máscara e continuar a tentar gostar de mim (ou não, porque os outros também não gostam).

A verdade, é que todos olham, todos falam, todos perguntam, todos “brincam”, mas ninguém me vê… Ninguém me vê, como eu me vejo.

Este texto descreve o que tantas pessoas podem estar a passar. As perturbações alimentares estão intrinsecamente ligadas a padrões de pensamento disfuncionais que influenciam a nossa perceção, interpretação e avaliação de nós mesmos, do corpo e da nossa alimentação. 

Estas distorções cognitivas podem ser:  

  1. Pensamentos dicotómicos – tudo ou nada;
  2. Filtro mental Consiste em focarmo-nos nos aspetos negativos e ignorar o resto da informação. O negativo é filtrado e absorvido, enquanto o positivo é esquecido;
  3. Catastrofização –Tendência para ampliar e exagerar as consequências negativas de uma situação;
  4. Perfecionismo – Padrões rígidos e irrealistas de autoexigência;
  5. Raciocínio emocional Refere-se à suposição de que as nossas emoções refletem as coisas como elas são. É acreditar que o que sentimos no momento é o correto e verdadeiro;
  6. Generalização – Tendência para generalizar experiências isoladas.

Estes pensamentos reforçam os comportamentos desadaptativos relacionados com o corpo e com a comida e a alimentação. É importante aprender a identificar, desafiar e substituir estes pensamentos disfuncionais por pensamentos mais realistas, mas também mais saudáveis. 

 A MR-Terapias tem uma equipa de psicólogas/os que te podem ajudar. Vamos juntos olhar-nos ao espelho?

AUTORA:

Dra. Rita GuerreiroPsicóloga Clínica

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