“VAI-TE PAPÃO, VAI-TE EMBORA”

Dificuldades na hora de dormir e pesadelos. O que fazer?

 

Vai-te papão, vai-te embora

de cima desse telhado,

deixa dormir o menino

um soninho descansado.”

 

Em Portugal, o bicho-papão é tema de uma antiga cantiga de embalar, é a personificação do medo na hora de dormir.

O sono é uma atividade fisiológica essencial para o bem-estar físico e mental e para qualidade de vida, acrescidamente é um indicador sensível do estado emocional da criança. Uma boa noite de descanso é crucial, pois a disrupção do ciclo normal de sono faz com que a criança não descanse o suficiente e permaneça num prolongado estado de alerta, aumentando assim o risco de insónia, pesadelos, sonolência excessiva diurna e fadiga.

Para a grande maioria das crianças, os problemas do sono são pontuais ou temporários, e com frequência não exigem tratamento. No entanto, podem surgir perturbações do sono, e estas centram-se essencialmente em dificuldade em deitar e em adormecer, e em distúrbios que perturbam o sono, como os pesadelos e os terrores noturnos. 

  1. Dificuldade em deitar e em adormecer

As dificuldades mais comuns são: resistência em ir para a cama quando os pais mandam, medo de deitar e de adormecer, dificuldade em adormecer sozinha, e voltar a adormecer se acordou durante a noite. 

As causas destas situações são múltiplas, mas, por norma, estão relacionadas com dificuldades comportamentais, sentimentos de desproteção, ou com fantasias erradas que a criança formulou sobre o escuro.  

Quando se trata de dificuldades comportamentais estas podem surgir quando os pais não estabelecem regras consistentes na hora de deitar. Nesse sentido a criança tem necessidade de determinadas rotinas que lhe transmitam segurança para adormecer, e se a criança se habitua a adormecer com determinadas rotinas, quando acorda a meio da noite precisa do mesmo conforto para voltar a adormecer. Pode consultar o nosso Instagram e/ou Facebook para ficar a par de algumas estratégias que o adulto pode adotar para facilitar a rotina do adormecer.

No que concerne a solidão, a capacidade de estar só é um dos indicadores mais importantes da maturidade do desenvolvimento afetivo, é necessário que a criança tenha uma perceção de segurança e confiança nas figuras parentais, para que progressivamente, a representação da segurança seja introjetada e a criança torne-se capaz de estar verdadeiramente sozinha, renunciando a presença física dos progenitores.

Por último, quando as crianças crescem, começam a ter medo do escuro, de fantasmas ou de ladrões, e tal é normal. O mais indicado será aceitar que é normal ter-se medo, mas que os pais estão lá para proteger a criança, pois embora se tratem de fantasias e estas não são reais, o medo da criança é real.

  1. Distúrbios que perturbam o sono

Conforme as crianças vão crescendo, a quantidade de sono com movimento rápido dos olhos (REM) aumenta, e é durante essa fase do ciclo do sono que ocorrem os sonhos, incluindo os pesadelos. Por norma são sonhos assustadores, que parecem ter origem em medos e conflitos normais para a idade da criança. As crianças podem despertar completamente e podem, igualmente, lembrar-se vivamente dos detalhes do sonho. Em consequência, é expectável que a criança sinta dificuldade em voltar a adormecer e, no dia seguinte, poderá ter medo de se deitar.

Os pesadelos são extremamente comuns na infância e, a menos que sejam demasiado frequentes, os pesadelos não são causa de preocupação. Eles podem ocorrer com maior frequência durante períodos de maior ansiedade, após acontecimentos traumáticos ou depois da criança ver algum filme ou programa de TV com conteúdo mais assustador ou agressivo. Se os pesadelos ocorrerem frequentemente, os pais podem utilizar um diário para tentar identificar a causa e/ou consultar o Pediatra ou Neuropediatra. 

Em caso de pesadelo, o que os adultos podem fazer?

  • Consolar e acalmar a criança;
  • Explicar que os pesadelos não são reais;
  • Conversar sobre o que pode estar a preocupar a criança; 
  • Fazer um desenho sobre o sonho mau, amachucar o papel e deitá-lo fora;
  • Deixar com a criança algum objeto do qual ela goste (um peluche, um cobertor ou outro brinquedo que promova sensações de conforto);
  • Desenvolver um ritual para hora do sono, para que a criança possa relaxar e voltar a dormir mais facilmente.

Os terrores noturnos são episódios de despertar incompleto no sono profundo com extrema ansiedade, mais comuns em crianças com 3 a 8 anos de idade, mas podem estender-se até aos 12 anos. São vários os comportamentos que a criança pode apresentar, desde gritar, parecer assustada, ficar inconsolável durante o episódio, exibir agitação motora, debater-se violentamente, pode falar, mas ser incapaz de responder a questões, apresentar frequência cardíaca acelerada, sudorese e respiração rápida. Algumas crianças com terrores noturnos podem também apresentar sonambulismo (levantar-se da cama e caminhar pela casa aparentemente durante o sono).

A criança parece não estar ciente da presença dos pais, logo pode não responder ao reconforto providenciado pelos mesmos. A criança não deve ser acordada, porque isso pode deixá-la ainda mais assustada e desorientada. Diferentemente do que ocorre no caso dos pesadelos, a criança não consegue recordar detalhes desses episódios e, em geral, volta a dormir após alguns minutos. 

Terrores noturnos e o sonambulismo quase sempre cessam sem tratamento, ainda que episódios ocasionais possam ocorrer durante anos.

Em caso de terror noturno infantil, o que os adultos podem fazer?

  • Acalmar a criança através de abraços e carinhos;
  • Cuidar para que a criança não se magoe;
  • Esperar o episódio de terror noturno infantil passar;
  • Lembre-se: não é necessário acordar a criança.

AUTORAS:

Dra. Mara Candeias – Psicóloga Clínica

Dra. Sandra Avelar – Psicóloga Clínica

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